Alfredo Cunha

"Alfredo Cunha nasceu em 1953. Começou a carreira profissional em fotografia publicitária em 1970 e como fotojornalista no Notícias da Amadora em 1971.
Trabalhou no jornal O Século e n'O Século Ilustrado, na Agência Noticiosa Portuguesa ANOP (1977) e nas agências de notícias Notícias de Portugal (1982) e Lusa (1987). Foi fotógrafo e editor chefe no Público entre 1989 e 1997, quando decidiu juntar-se ao grupo Edipresse como fotógrafo chefe. Em 2000, começou a trabalhar na revista Focus. Em 2002, colaborou com Ana Sousa Dias no programa Por Outro Lado, da RTP2. Foi o fotógrafo e editor chefe do Jornal de Notícias entre 2003 e 2009.
Fotografou a Revolução do dia 25 de Abril de 1974. Depois viajou por Angola, Moçambique, Guiné Bissau, S. Tomé, Timor Leste e Cabo Verde, fotografando a descolonização portuguesa.
Alfredo Cunha foi reconhecido com vários prémios e honras, incluindo uma da Ordem do Infante D. Henrique e menções honrosas no Prémio Europeu de Fotografia de Imprensa Fujifilm, em 1994 e o prémio Visão BES para fotojornalismo em 2007.
Publicou vários livros de fotografia, entre os quais Raízes da Nossa Força (1972), Vidas Alheias (1975), Disparos (1976), Naquele Tempo (1995), O Melhor Café (1996), Porto de Mar (1998), 77 Fotografias e um Retrato (1999), Cidade das Pontes (2001), Cuidado com as Crianças (2003), Cortina dos Dias (2012), O Grande Incêndio do Chiado (2013), Os Rapazes dos Tanques (2014) e Toda a Esperança do Mundo (2015)."

Fonte


1.Quais são as suas recordações mais marcantes sobre o regime do Estado Novo?
R: As minhas recordações mais marcantes são a falta de liberdade, censura e não poder publicar aquilo que fazia. Ter os meus trabalhos censurados, mas, essencialmente, a minha maior recordação traduz-se na falta de liberdade.

2. 0nde se encontrava no dia 25 de Abril de 1974? Que impacto teve esta revolução na sua vida?
R:
No dia 25 de Abril como é público fotografei a revolução desde muito cedo até ao fim do dia e também durante os dias que se seguiram. Eu considero-me um dos fotógrafos do 25 de Abril. Foram cerca de 20 fotógrafos na revolução e pode-se dizer que sou um deles.
Quanto ao impacto que o 25 de Abril teve na minha vida, estava a começar a minha carreira jornalística, o meu trabalho na altura tinha alguma influência na imprensa e ao longo do tempo este dia esteve sempre presente na minha carreira de uma forma ou de outra. A Revolução dos Cravos mudou a minha vida e mudou completamente o país.

3.Qual a importância do seu trabalho fotográfico na história do antes, durante e pós 25 de Abril de 1974?
R:
Isso só um historiador poderá definir. Eu penso que pelas minhas preocupações em relação ao meu trabalho jornalístico, que durou 40 anos, o impacto do meu trabalho antes, durante e o pós 25 de Abril é uma coisa que só os historiadores poderão avaliar e só o tempo lhe dará o devido lugar que ele poderá ter ou não na história. Não me cabe a mim avaliar isso se bem que eu tenho orientado o meu trabalho sempre no sentido de o documentar a nível nacional. 

4.Como avalia o período que se seguiu à Revolução dos Cravos (como descreve a transição política da ditadura para a democracia, quais são as suas memórias sobre este período, foi um período que o marcou - justifique)?
R:
Existe muita polémica sobre aquilo que é chamado o PREC (Período Revolucionário em Curso) que é o ano que se segue ao 25 de Abril (entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro). Sobre isto tenho uma visão muito particular, tem a ver com a forma como eu penso. Eu sou uma pessoa situada à esquerda e sempre fui. Isso fez parte do meu trabalho e posso dizer que foi o período mais feliz da minha vida. Eramos felizes nessa altura; fomos muito felizes.

5.Que avaliação faz da democracia na atualidade?
R:
Antigamente costumava dizer que estávamos a precisar de outra revolução, neste momento já não digo isto. Acho que estamos a entrar no caminho certo e espero que se consiga porque finalmente começo a ver que a democracia dá resultado. No fundo a democracia trouxe-nos muitas coisas boas mas também más. A corrupção é um fenómeno que apesar de existir no regime anterior é um dos maiores problemas da democracia.

Entrevista realizada por Ana Matilde Reis
 Coordenação/Tutoria:
Professora Ana Sofia Pinto